A situação do Brasil frente a avassaladora onda de criminalidade mostra bem a divisão de nossa sociedade. Há crimes de grande magnitude praticados dentro dos círculos que detêm o poder político, econômico e cultural, ou em outras palavras, dentro do sistema. Destacam-se neste aspecto os crimes decorrentes da corrupção.
Se tomássemos a Teoria das Janelas Quebradas, que parte da ideia que janelas do sistema são quebradas de fora para dentro (a teoria baseia-se na repressão dos pequenos delitos ou contravenções, pois estes conduziriam inevitavelmente a condutas criminosas mais graves). Entretanto, no caso dos crimes praticados por empresários e políticos, os delitos são cometidos dentro do sistema, portanto, as janelas são quebradas por quem está dentro da edificação social e, na maioria das vezes, protegido pelo próprio sistema. Incluem-se neste tipo de crime as milícias, que funcionam a partir do poder estatal lançando tentáculos para o domínio e exploração da população desassistida pelo Estado. O enfrentamento deste tipo de criminoso exige uma postura firme e enérgica, diversa do enfrentamento que deve ser dado aos que estão do lado de fora do edifício político-social do país, aqueles que atentam e quebram as janelas estando do lado de fora. Mas não é o que se vê.
Os que estão fora do sistema, responsáveis por quebrar as janelas de fora para dentro, geralmente, são os marginalizados, isto é, que estão à margem, fora do contexto político-social, não são beneficiários do poder nem reclamam direitos, mas, na maioria das vezes se opõem a ele se colocando num estado de revolta quase permanente.
Se a real aplicação da lei penal é a solução para enfrentar os criminosos que estão dentro do sistema, aos que estão fora é preciso mais do que o código penal, é necessária uma política criminal que permita a inclusão destes marginalizados, através da educação e atenção à suas necessidades básicas.
Desejar, somente através da repressão pura e simples, enquadrar os marginais sociais num arcabouço que não entendem, só os leva, cada vez mais, para o enfrentamento com a ordem constituída.
Não serão as prisões que trarão tranquilidade aos lares brasileiros, mas escolas, hospitais, empregos, em síntese, a possibilidade de uma vida digna.
Aliás, como já escrevi outras vezes, as prisões têm se mostrado absolutamente ineficazes para conter a criminalidade (é de dentro dos presídios que se comanda o crime). Ademais, o cárcere não dá qualquer chance de recuperação ao condenado, mas, ao contrário, é fator de facilitação da inclusão do apenado nas diversas facções que comandam os presídios a delinquência extramuros.